A Rua da Estrada é um conceito que emerge sobre os escombros da dupla perda da «cidade» e do «campo» e da oposição convencional entre o «urbano» e o «rural». Da cidade, existe a ideia muito comum de que se trata de uma forma de organização social (a polis ou a civitas) intensa e diversa, que ocupa um território densamente construído, com uma forma, um centro e uns limites perfeitamente definidos. Esta imagem da cidade aparece como um «interior» confinado, rodeado pelos espaços extensivos e rarefeitos da agricultura, da floresta ou dos espaços ditos naturais. No mesmo registo, o rural seria o espaço da agricultura; agrícola porque maioritariamente dependente da economia agroflorestal, e rural, no sentido cultural, porque correspondente a estilos de vida e visões do mundo dominadas por um certo tradicionalismo atávico e pelo fechamento sobre si.
Nada mais falso. As transformações da agricultura e do rural são tão radicais quanto as que se verificam nas cidades.
Hoje a urbanização progride a um ritmo avassalador e já não está exclusivamente dependente da aglomeração e da proximidade física entre as pessoas, os edifícios e as actividades. As infraestruturas – como as estradas ou as redes de telecomunicações, de água ou de energia – percorrem territórios imensos, que tornam possível um sem-número de padrões de localização e de formas de organização social. O urbano é um «exterior» desconfinado e instável, por contraposição à imagem da cidade amuralhada.
A Rua da Estrada é a perfeita imagem desta metamorfose. Mais do que lugar, a Rua da Estrada emerge como resultado da relação, do movimento. O fluxo intenso que a percorre é o seu melhor trunfo e a sua própria justificação. Sem fluxo não há troca nem relação, génese primordial da velha cidade. Dizia-me alguém explicando as manobras de sedução que praticava para tornar o seu negócio visível a quem vai na estrada: «O problema é fazê-los parar.»
Texto introdutório de Eduardo Andrade Gomes
A edição deste livro foi possível graças ao patrocínio exclusivo de Estradas de Portugal, S.A.
€17,00
Equações de Arquitectura:
n.º 44
Dimensões:
260 p., 15,0×22,5 cm
Peso:
575 g
Edição:
Dafne Editora
Data:
Fevereiro de 2010
DL:
304670/10
ISBN:
978-989-8217-06-6
Design:
João Faria/Drop