Homem discreto, de comportamento sereno e seguras convicções, António Correia da Silva foi um típico portuense, criador de algumas arquitecturas emblemáticas da cidade. A sua acção profissional nunca terá sido devidamente valorizada. Como excepção, ninguém contesta o significado da afirmação municipalista do edifício dos Paços do Concelho, no remate da Avenida dos Aliados, ou a importância do Mercado do Bolhão como dinamizador da vida cívica promovida pela burguesia liberal da Primeira República. O discurso crítico acerca dos seus trabalhos sempre revelou alguma desconfiança relativamente aos pressupostos programáticos daquelas arquitecturas, esquecendo a coerência conceptual que lhes esteve na origem. E quanto a outros trabalhos menos centrais, como o Matadouro de São Roque da Lameira ou a garagem dos Bombeiros Municipais da Foz do Douro, têm sido esquecidos enquanto marca de uma época, expressão coerente de internacionalização da nossa cultura.
Mais do que reconstituir a biografia de um arquitecto da cidade, o objectivo deste trabalho é o de encontrar os princípios do enunciado clássico adequado ao novo século, segundo as linhas defendidas pelos académicos parisienses das Beaux-Arts.
Em tempo de eclectismos românticos e quando surgiam os primeiros sinais do modernismo na cultura portuguesa, importa perceber até onde conseguiu resistir a coerência deste arquitecto, formado na Academia, ideologicamente comprometido com a pátria e com a República, mas consciente de que o seu campo de intervenção social teria de ser balizado pelo eficaz exercício da profissão, ao serviço do bem comum. No sentido de enquadrar os caminhos da arquitectura portuguesa, procura-se neste livro perceber por que razão, passados os anos da afirmação revolucionária da República, o artista se deixou apagar em tempo de avanço das correntes modernas, contestadas pelo autoritarismo do Estado Novo. Parece que a sua armadura teórica se terá revelado frágil perante a dureza da luta política necessária.
Correia da Silva não desapareceu da narrativa da arquitectura portuense, porque aquelas duas obras emblemáticas tocaram desde cedo o coração do povo, que as tomou como marca identitária do centro cívico. Mas até mesmo o edifício dos Paços do Concelho foi, em certas épocas, motivo de escárnio de intelectuais vanguardistas perante a desconfiança ignorante de gestores municipais. Salvou-se a arquitectura e apagou-se o seu autor, do mesmo modo que se afastaram das crónicas de especialidade tantos outros arquitectos com notáveis contributos para a coerência dos nossos dias.
Este livro foi co-editado pela Dafne Editora e pelo Centro de Estudos de Arquitectura e Urbanismo da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, com o apoio da Câmara Municipal do Porto.
Trabalho co-financiado pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) através do COMPETE 2020 – Programa Operacional Competitividade e Internacionalização (POCI) e por fundos nacionais da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, no âmbito do POCI-01-0145-FEDER-007744.
Recensões
Sérgio C. Andrade, «Correia da Silva, o (mal-amado) arquitecto da Câmara do Porto» in Público, 8 Novembro 2016
Prémios
Obra Seleccionada Prémio FAD de Pensamento & Crítica 2017 Arquinfad, Barcelona
€30,00
Fora de Série:
n.º 9
Dimensões:
240 p., 21,6×26,2 cm
Peso:
980 g
Edição:
Dafne Editora/CEAU
Data:
Outubro de 2016
DL:
417410/16
ISBN:
978-989-8217-39-4
Design:
João Faria/Drop