Alberti foi o primeiro uomo universale do Renascimento europeu. Escritor humanista admirador dos clássicos, dedicou-se às ciências e às artes, estudou geometrias e astrologia, foi poeta e ensaísta, desenvolveu estudos matemáticos e ópticos para consolidação dos conhecimentos de perspectiva no seu tempo, interessou-se pela aplicação dos princípios harmónicos e compositivos da música às regras da proporção em arquitectura. Nos círculos humanistas do renascimento italiano foi elogiado como literato, matemático, físico, músico, pintor, escultor e arquitecto.
O movimento arquitectónico europeu vem extraindo do pensamento discursivo e sistemático expresso no De re aedificatoria as bases de uma teoria geral para a construção e para a cidade, enquanto artefactos ao serviço do equilíbrio do espaço humanizado e, como tal, integradores de uma cultura do sensível e do belo. O discurso albertiano constitui um exacto exercício na tentativa de descoberta dos valores essenciais da arte de construir. Mas também há uma obra especificamente arquitectónica persistente no terreno, a qual marca a memória indelével do mito que as concebeu. São coisas reais, como as fachadas de San Francesco de Rimini, de Santa Maria Novella ou do Palácio Ruccelai, em Florença, ou os templos paradigmáticos de San Sebastian e Sant’Andrea de Mântua, que nos permitem admirar o arquitecto e confrontar as suas soluções com os princípios enunciados no seu tratado.
Alberti declarou-se, em certa época da sua vida, pintor e escultor. Mas, mesmo nessa qualidade, o que nos deixou foi um notável trabalho escrito sem desenhos. É quase certo que desenhava, mas a sua estrutura intelectual conduzia-o sistematicamente ao modo discursivo de natureza abstracta, distinto do processo de memorização visual para suporte das sínteses que caracteriza o trabalho próprio da arquitectura que ele ajudou a definir. A teoria de Alberti é bem mais que a leitura crítica do tratado de Vitrúvio, porque pretende fixar os enunciados metodológicos legíveis nos acontecimentos do seu tempo, formulando as regras quanto ao desenho e ao reconhecimento do projecto como instrumento de rigor que hoje constituem ainda os procedimentos básicos do fazer arquitectónico.
Os primeiros trabalhos significativos em matéria de arquitectura realizados por Alberti atêm-se à problemática dos planos de presença exterior, introduzindo o vocabulário clássico na ordem geométrica visível. São os invólucros de San Francesco de Rimini, do Palácio Ruccelai ou de Santa Maria Novella, em Florença. Com eles vêm ao processo os traçados reguladores identificados por arcos, pilastras, capitéis e outros símbolos romanos, que dão corpo à articulação gráfica do jogo das proporções como entidades abstractas. Em contrapartida, os projectos realizados na idade madura, de que se destacam as igrejas de San Sebastian e Sant’Andrea, constituem exemplos magníficos do jogo das espacialidades comandadas pela luz, num trabalho de modelação da forma interior em que a sensibilidade plástica se aliou à razão compositiva de raiz geométrica para criar duas obras arquitectónicas que são o espelho dos enunciados fundamentais do seu discurso teórico. San Sebastian evidencia o drama dos artistas do Renascimento ao tentarem que as formas espaciais, ao mesmo tempo que se querem úteis, servindo os desígnios da liturgia religiosa, alcancem uma correspondência com a teoria da perfeição geométrica, num compromisso impossível de concretizar. Sant’Andrea, ao colocar o modelo organizativo do acto religioso como referência indicadora da estrutura arquitectónica, ofereceu-se como solução excelente para ser tomada como protótipo de toda a arquitectura da Contra-Reforma religiosa que fez a história do Classicismo até ao final do século XVIII.
€10,00
Sebentas de História da Arquitectura Moderna:
n.º 3
Dimensões:
140 p., 15,0×22,5 cm
Peso:
250 g
Edição:
Dafne Editora
Data:
Fevereiro de 2004
DL:
202251/03
ISBN:
978-972-99019-3-5
Design:
Gráficos do Futuro