Dafne Editora

Livros de Arquitectura

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Peixe-Lua
Luís Miguel Cintra, Beatriz Batarda, Ricardo Aibéo e João Luís Carrilho da Graça

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Carrilho da Graça Estou perfeitamente de acordo com essa descrição e referia-me precisamente a isso. É evidente que existe uma história e que o filme é cuidadosamente tecido e organizado. O que não me parece é que essa história seja a matéria fundamental do filme. A história vai apoiando uma série de registos, da mesma maneira que o espaço das cidades e as casas vão apoiando uma série de ideias e sensações que vão sendo propostas e induzidas. Para mim, o fundamental do filme – o que o Luis Miguel Cintra chama de derrota – é esta espécie de abertura de um espaço que aparece como vazio, no sentido de não haver tomadas de posição em relação à presença de todas estas personagens e de todas estas hipóteses de leitura, interpretação e história.

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João Bénard da Costa Hoje, no filme, várias coincidências me fizeram uma certa impressão. Primeiro a ligação ao tema deste ciclo. No primeiro plano em que se vê a casa pensei: «Pela primeira vez neste ciclo, vemos uma casa de ricos.» Porque nos filmes apresentados até aqui elas nunca apareceram. Nem nos Verdes Anos: aquilo é uma casa da pequena burguesia, ou média burguesia, mas não é uma casa de ricos. Aqui é. É uma casa que é bonita, num espaço agradável, o carro de luxo na garagem, os cavalos, tudo aquilo que está ligado ao dinheiro.

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Beatriz Batarda (…) A maneira como nos é apresentada a história deste grupo está cheia de pequenos detalhes que, por vezes, nos passam um pouco ao lado. Essa tragédia é absolutamente consequente, porque é uma repetição, uma rima que obedece ao tal ciclo ou padrão familiar. Isso foi o que aconteceu ao Gabriel. Primeiro, era ele o toureiro nas mãos do grande empreendedor, e ficou com uma lesão – no final, repara-se que o Gabriel coxeia quando corre, por culpa dessa lesão na anca nunca mais voltou a tourear. É por isso que há um momento de frustração em frente ao espelho – que também rima com uma cena anterior em que o Rafael fazia a mesma coisa. A cena apresenta-se como o segundo sacrifício, e também por essa razão o ritual da tourada. E lá está a tal influência – continuo a bater no mesmo ceguinho – judaico-cristã do sacrificado, também presente na tradição dos rituais ao deus Mitra, mais um carneirinho que vai ser sacrificado pelos ganhos do novo feudo.

Veja aqui mais informações sobre o livro que reúne todos os fascículos desta colecção

Gratuito

O Lugar dos Ricos e dos Pobres: n.º 6
Dimensões: 22 p., 15,0×22,5 cm
Edição: Dafne Editora
Data: Junho de 2014
Design: João Guedes/Dobra