Verdes Anos
Paulo Rocha e Eduardo Souto de Moura
Paulo Rocha Felizmente, na altura d’Os Verdes Anos estava numa total virgindade do olhar, a tentar resolver os meus pobres problemas. Foi uma espécie de higiene mental encontrar uma espécie de fantasma meu, que era o sapateiro que matava a rapariga que não queria casar com ele, e esta foi a minha maneira de resolver o caso. Julgo que seria a melhor receita para qualquer processo de cinema: ser suficientemente subjectivo e egoísta como eu fui – tentar resolver um problema prático.
Souto de Moura Acho que a resposta está dada quando digo que faço casas para mim e o Paulo Rocha diz que faz filmes para ele. Para sublimar… Foi isso que gostei imenso de ver no filme, calmamente: não é panfletário. Quero dizer, toca em vários acontecimentos, fala de amor e tem cenas de erotismo, mas ninguém está nu. A outra classe está sempre presente, e as diferenças também, mas não é forçado. O movimento moderno tem os cinco elementos de que eu gosto; se calhar foi por acaso, mas estão sempre a ser focados – o elogio da máquina, objecto quase de culto do modernismo, mas também não é forçado. O Jaguar E que aparece, há uma boca. Tudo aparece com uma certa naturalidade, essas componentes sociais, estéticas, éticas… Estou a lembrar-me de quando eles vão almoçar ao lado de lá. Há uma cena numa cozinha grosseira, com um tipo a pegar nos pratos cheios de gordura e, de repente, muda-se para a cozinha moderna que tem os armários em cima. Há sempre esta questão. Filma a carroça e de repente vira para os prédios. Portanto, o que acho que é interessante é não haver aqueles tipos que dão respostas e explicam tudo: «Sobre isto tal, tal sobre isso…» O que há é uma abordagem, fornece-se informação para as pessoas poderem decidir, são elas que têm de decidir.
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Gratuito
O Lugar dos Ricos e dos Pobres:
n.º 1
Dimensões:
26 p., 15,0×22,5 cm
Edição:
Dafne Editora
Data:
Janeiro de 2013
Design:
João Guedes/Dobra