Entre recusar o urbano e inebriar-se no coração da multidão será possível dar sentido às dicotomias da cidade contemporânea?
A personagem literária do flâneur foi caracterizada por Baudelaire, no livro O Pintor da Vida Moderna, como um vagabundo aristocrata que deambula pela paisagem urbana, um espectador apaixonado que encontra lugar no coração da multidão, cercado no fluxo e refluxo do movimento, isto é, na própria contingência da modernidade. O flâneur não tem motivação aparente, não carrega o peso da erudição nem da memória do passado, não tem direcção nem objectivo. O seu propósito é uma rendição passiva ao fluxo aleatório e surpreendente das ruas. A multidão é o seu território, a sua profissão é misturar-se com a multitude. Para o perfeito flâneur, um observador apaixonado, torna-se uma imensa fonte de prazer viver entre a mole humana, estar longe mas sentir-se em casa em qualquer lado, ver o mundo, habitar o seu centro e ainda assim permanecer escondido. O estado de espírito peculiar do flâneur, do moderno vagabundo, é a solidão. A massa em seu redor serve para acentuar este isolamento, permite-lhe o contacto humano, que o inspira, mas não interrompe o seu percurso solitário.
Gratuito
Opúsculos:
n.º 6
Dimensões:
16 p., 15,0×22,5 cm
Edição:
Dafne Editora
Data:
Julho de 2007
DL:
246357/06
ISBN:
1646-5253
Design:
Manuel Granja